terça-feira, 27 de abril de 2010

Justificando o nome do espaço...



Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.



Carlos Drummond de Andrade


...As palavras do mestre Carlos, assim que as li, maracaram muito.

Lembro como se fosse hoje, aula de literatura com o Grande Ivo...Bons tempos...
Retrata bem as minhas facetas...Como já acreditei na mudança e como esta hoje não passa, para mim, de utopia de outrem.

Como diria o mestre ..."Seria uma rima, não seria uma solução"... Talvez tudo o que venhamos a fazer seja nada mais, nada mesmo do que apenas rimas, adaptações para que nossas ações soem "bonitinhas", não seria de fato uma solução. E cá pra nós, brasileiros, de medidas paleativas já estamos cheios!

Será, meu Deus, que é certo viver assim? Sem acreditar na mudança? Logo esta que comanda o tempo e a própria vida?!

Um comentário:

  1. Eu nem sei dizer no que eu acredito agora... Já acreditei em tantas coisas, e acho q continuo acreditando em um pouquinho de cada uma das muitas coisas na qual acreditei...

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